Era apenas mais um, um entre tantos outros que vagueavam pelas ruas da cidade, não era nem mais nem menos que isso, só mais um, só mais um dos muitos que eram indiferentes aos que diariamente se apelidavam de pessoas normais, aqueles que todos diziam ser os parasitas de uma sociedade que por si só já se encontrava podre, eram isso mesmo, vírus humanos que, á vista deles não passavam de uma “doença” contagiosa que era importante evitar, não passando sequer pelas suas cabeças que nada é certo, que tudo na vida têm um principio, um meio e um fim, e que o fim deles, ou até mesmo o meio, poderia contemplar-lhes algo idêntico ao qual não poderiam fugir…
Também ele fôra normal, com teto, com família, com amigos, dinheiro, roupas lavadas nada parecidas com as que ostentava agora, que a única agua que viam era a da chuva ou a de uma das muitas fontes da cidade, também a aparência tinha tido contornos de uma beleza incalculável que hoje nem uma sombra era disso, tornou-se um homem rude, feio, sujo, sem classe, mas essa classe que se julga pelo aspeto ele tinha-a, tinha-a no caracter, na educação, não era pelas voltas que a vida tinha dado que deixava de ser quem era, igual e em alguns casos melhor que os muitos que para ele olhavam de lado.
Mal tratado pelos que o rodeiam, escorraçado pelos que se cruzam esporadicamente com ele, descriminado pela sociedade em geral, levava a sua vida sem esperança, sem rumo, apenas com a certeza que tudo iria acabar um dia, mas não tinha coragem para ser ele a fazê-lo, preferia esperar, mesmo que isso o fizesse sofrer ainda mais que uma possível atitude mais drástica, atitude essa que aos olhos dele e de toda a sociedade seria indiferente e passaria despercebida.
Mas mudou, tudo muda de um dia para o outro, foi ele, aquele que ninguém queria por perto, aquele que já não tinha vida ou pelo menos algo que se parece com o que apelidamos de vida, por estar ali, por só ter o acto de observar como objectivo diário, que a salvou, saltou em seu auxilio quando ela estava prestes a ser abarroada por um carro, por certo o suficiente para lhe retirar um futuro promissor que a sua idade e beleza faziam adivinhar, se ele não estivesse por perto o fim poderia ser trágico, mas não o foi, foi como se de um milagre se tratasse, como se um anjo tivesse caído do céu, pronto para proteger aquela pobre rapariga. Ele era o seu salvador! Nunca o poderia esquecer, salvou-a, e com isso naquele dia ele foi importante, pelo menos para alguém, para ela, isso deu-lhe forças para aguentar o sofrimento diário que se entranhava no seu corpo, pelo menos por mais uns tempos, deixou de ser só mais um, passou a ser o anjo dela, aquele que para todos os outros era um Vagabundo!
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